quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tom de cinza

As notas perderam o som. A comida não tem sabor. Até a paixão esfriou. Os carros andam depressa, exibem suas formas, suas cores, a pressa de seus donos. As ruas guardam os passos de quem passa, recebem o vento que sopra do céu e recolhem as folhas que voam e caem. E tudo o que existe parece imutável.

O mundo segue sozinho, enquanto meu coração para na esquina. Meus sonhos morrem de tristeza, e a esperança é um grande mistério. A dor de não poder ver, de sentir sozinho aquilo que se sentia junto. De chamar sem resposta, de clamar por fé. De querer crer no que resta do ser. Na luz que só se imagina.

Os olhos molhados não dormem. A noite escura traz o ódio, o inconformismo. Aquilo que corta o peito também sangra na alma. A luz se apaga. Os olhos se fecham. A morte invade a casa. O que era abstrato, agora, se transforma em concreto. O mundo pintou de cinza.

Escuto de longe, bem baixo, quase sumindo. Uma voz que canta e ri baixinho no meu ouvido. É o som que eu não quero esquecer. A lembrança que eu quero ter. O que ainda me faz viver.

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