domingo, 28 de fevereiro de 2010

Aquela moça

Que jeitinho de criança tentador. Algo que o faz sentir-se velho e, paradoxalmente, novo, ao contemplar tamanha vida isenta de responsabilidades e repleta de incertezas inconscientes. Visualmente quase tudo ajuda. Compensa o moralismo insensato e até mesmo a meninice exageradamente piegas. A contemplação oculta pode ser divertida para ele que se esconde atrás da falsa timidez, sem nenhuma modéstia.

E ela sabe. Conhece os dotes físicos, às vezes até acerta no sorriso (quando se esquece do riso espontâneo infantil que a escapa sempre). Valoriza o que a faz melhor do que realmente é. Mas causa nele uma expectativa além do permitido, algo que se configura frustrante, sempre ao deparar-se com o despreparo emocional e a inconsistência psicológica.

No fim, ele ri de si mesmo e de todas as trapalhadas que seu ego provoca. Faz a ligação e tudo parece igual novamente. Sente-se bem, então, como nunca antes. Mascara a realidade, simulacros infinitos, entorpece-se de uma cultura inútil; vibra sozinho com as próprias regras criadas ao avesso do cotidiano simplório.

Não consegue enganar o tempo, o tempo todo. Mas sempre alcança restos de passado para satisfazer-se. Conforma-se como mero expectador do andar feminino, frio, cheio de uma falsa malícia. Convence-se do oposto ao desejo. E tudo fica bem, desde que acredite que também não a quer.

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