Quem o homem pensa que está enganando? Pensa que o tempo não
passou. Pensa que pode repetir palavras sem notar. Pensa, tão abstratamente,
que não pensa. Recua. Retoma e continua a pensar em nada, no imaginário,
ilusório, sem qualquer destino ou senso crítico.
Quando ele fecha os olhos, o que de fato vem a mente? O céu
turvo, talvez a poluição, deixe tudo tão diferente dos filmes em que o clima é
limpo. As janelas de hoje são tão diferentes. São digitais, modernas, práticas
e completamente sem brilho, sem vida. Momentos estáticos. Uma careta feliz,
capaz de causar tamanha tristeza, mesmo que essa não seja a palavra certa.
Ele parece um velho lamentando. E talvez esteja mesmo tão
longe dos seus 25 ou 26 anos (embora sabia o número exato). A felicidade na
foto é tão nítida, tão bem simulada, que talvez até seja real. E transpareça
para além dos anos, sem que tudo fique estranho, como com ele costuma ser.
Gostaria de afrouxar a gravata e preparar o whisky com
alívio. Mas não está nem perto dessa época. E vê todos aqueles rostos deixados
no passado, com o mesmo figurino. Tão diferente do seu chinelo havaianas e sua
bermuda listrada. Não sabe mais porque tantos foram embora, para mundos tão
distante. Não importa.
Ainda pensava no homem, aquele que pensa ter conhecido a
moça da foto. Bem antes da foto, bem antes do cênico, distante dos palcos.
Naquela época em que o homem era só um homem, ausente de si mesmo, de seus
próprios medos, que só ela entendia. Talvez entendesse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário