terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Em um ano novo

Quem o homem pensa que está enganando? Pensa que o tempo não passou. Pensa que pode repetir palavras sem notar. Pensa, tão abstratamente, que não pensa. Recua. Retoma e continua a pensar em nada, no imaginário, ilusório, sem qualquer destino ou senso crítico.

Quando ele fecha os olhos, o que de fato vem a mente? O céu turvo, talvez a poluição, deixe tudo tão diferente dos filmes em que o clima é limpo. As janelas de hoje são tão diferentes. São digitais, modernas, práticas e completamente sem brilho, sem vida. Momentos estáticos. Uma careta feliz, capaz de causar tamanha tristeza, mesmo que essa não seja a palavra certa.

Ele parece um velho lamentando. E talvez esteja mesmo tão longe dos seus 25 ou 26 anos (embora sabia o número exato). A felicidade na foto é tão nítida, tão bem simulada, que talvez até seja real. E transpareça para além dos anos, sem que tudo fique estranho, como com ele costuma ser.
Gostaria de afrouxar a gravata e preparar o whisky com alívio. Mas não está nem perto dessa época. E vê todos aqueles rostos deixados no passado, com o mesmo figurino. Tão diferente do seu chinelo havaianas e sua bermuda listrada. Não sabe mais porque tantos foram embora, para mundos tão distante. Não importa.

Ainda pensava no homem, aquele que pensa ter conhecido a moça da foto. Bem antes da foto, bem antes do cênico, distante dos palcos. Naquela época em que o homem era só um homem, ausente de si mesmo, de seus próprios medos, que só ela entendia. Talvez entendesse.


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