sábado, 31 de janeiro de 2015

Aquele lugar

Era tudo tão igual. Paradoxalmente diferente. O que eu estou fazendo aqui, afinal? Senti aquele frio na barriga, uma sensação estranha. Não foi saudade. Era, simplesmente, lembrança. Eu revi as cenas em minha mente, todas quase tão puras quanto distantes. E como estão distantes. A certeza de que esse lugar era meu e de que a ele eu pertencia ficou perdida naquele tempo. Nesse mesmo espaço. Como era igual.

De tudo que me recordo, tenho certeza sobre o céu. Era o mesmo céu. As mesmas nuvens de décadas atrás.  Sim, décadas,  a idade atual me permite (obriga) a contar o tempo assim. Tempo esse que eu jamais imaginara um dia. Como seria? Eu não sabia.  Mas sei,  agora, o quanto fui feliz. Não signifca que eu não o seja hoje, mas é preciso que o tempo se torne passado para entendê-lo em essência. Não, não havia contratempos. Nem adversidades.

Quando a água da piscina molhou meu rosto entendi, de novo, quando era, quando eu olhava o céu. O  mesmo céu. É igual. Quando os tijolos quase esfarelados foram revistos, quanta história guardada em cada canto, em cada pequeno espaço, onde tantas palavras foram ditas. Às vezes, fechando os olhos, ainda escuto o eco daqueles anos tão, tão felizes.

E, hoje, de novo, me encanto com esse céu azul. Lembro-me de quando escurecia. De quando o mau tempo chegava.  De quantas horas passei (passamos) em circunstâncias tão diversas, de vivências tão antigas, de memórias tão distantes e que, por distantes se tornam tristes. Lembranças.

Os rostos, hoje aqui tão diferentes, me dão conta de que não existem donos do mundo. Em lugar algum. Somos todos usuários. Provisórios. Sistemas temporários. Fatos circunstanciais que se repetem com outros.

Mas eu ainda posso olhar o céu, pois de tantos outros, jovens e velhos, nenhum tem a mesma lembrança e os mesmos sentimentos, que um dia compartilhei com os que eram meus.


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