quinta-feira, 5 de março de 2015

E quem não se lembraria?

De repente dou um pulo no passado, observo aquele rapaz, e vejo que não mudou. Ao menos não ele. O que muda é o resto. Ele sente um sabor estranho de tudo que degusta, novamente, como se fosse a primeira vez. Mas não é, embora o sabor seja outro.

Eu me lembro de vê-lo decidido, tão, que não haveria margem à dúvida, em nenhuma instância do bem ou do mal. Ele sabia o que pensar, para onde olhar. E o que desejar. E agora? O que deu errado? O chão mudou de cor. O céu mudou de lugar.

Não, não é ruim. É bom lembrar da cor. Amarelo como tanto desejou. Negros ou, simplesmente escuros, como sempre achou que seriam. Eram tantos planos imaginários, tão absurdos, que de tão improváveis, flertavam com a realidade, numa possibilidade remota, mas ainda assim, real.
E o que ele faz agora? São, hoje, pessoas tão isoladas em seu próprio mundo, suas próprias vivências, todas tão distantes, mas ainda presas a ele, por um único fio que a tudo o conecta: a lembrança – um fio tão velho e empoeirado, sempre contraditoriamente esquecido em algum lugar da alma.

Vejo esse mesmo rapaz, às vezes perdido naqueles tantos mundos desconexos. E está além da percepção. Da minha e da dele. Vejo pessoas como galáxias silenciosas, abandonadas, flutuando em um universo paralelo, visitadas, às vezes, pra matar a saudade, ou, simplesmente, para que não se esqueça. Tão irreal, tudo tão duplicado, cópias de nós mesmos, e desses tantos cenários inventados, sonhados, desejados, dilacerados, lembrados.


Eu me lembro. É claro que sim.

Nenhum comentário: