De repente dou um pulo no passado, observo aquele rapaz, e
vejo que não mudou. Ao menos não ele. O que muda é o resto. Ele sente um sabor
estranho de tudo que degusta, novamente, como se fosse a primeira vez. Mas não
é, embora o sabor seja outro.
Eu me lembro de vê-lo decidido, tão, que não haveria margem
à dúvida, em nenhuma instância do bem ou do mal. Ele sabia o que pensar, para
onde olhar. E o que desejar. E agora? O que deu errado? O chão mudou de cor. O
céu mudou de lugar.
Não, não é ruim. É bom lembrar da cor. Amarelo como tanto
desejou. Negros ou, simplesmente escuros, como sempre achou que seriam. Eram
tantos planos imaginários, tão absurdos, que de tão improváveis, flertavam com
a realidade, numa possibilidade remota, mas ainda assim, real.
E o que ele faz agora? São, hoje, pessoas tão isoladas em
seu próprio mundo, suas próprias vivências, todas tão distantes, mas ainda
presas a ele, por um único fio que a tudo o conecta: a lembrança – um fio tão
velho e empoeirado, sempre contraditoriamente esquecido em algum lugar da alma.
Vejo esse mesmo rapaz, às vezes perdido naqueles tantos
mundos desconexos. E está além da percepção. Da minha e da dele. Vejo pessoas
como galáxias silenciosas, abandonadas, flutuando em um universo paralelo,
visitadas, às vezes, pra matar a saudade, ou, simplesmente, para que não se
esqueça. Tão irreal, tudo tão duplicado, cópias de nós mesmos, e desses tantos
cenários inventados, sonhados, desejados, dilacerados, lembrados.
Eu me lembro. É claro que sim.
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