sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Quando o mundo para

Eu já nem me lembrava mais. Pulava folhas em branco do caderno, omitia datas e as páginas não escritas perdiam o seu registro. Perdi a concentração para coisas profundas, pautei a sensibilidade para a superfície. Priorizei o imediato, o concreto, o palpável. Viabilizei o prazer e os desejos mais simples. Uma barra de chocolate suíço, um cappuccino italiano.

Quando o telefone tocava, aquela voz embriagada falava, e tudo em que se acreditava acontecia. Ou prometia. As manchas das uvas mais nobres nas taças mais finas se apagavam sozinhas. As lembranças esbranquiçadas, as fotos amareladas e o fogo que consumia o pouco que ainda restava.

Eu não sei quantas voltas o mundo deu. Nem quantas ele ainda vai dar. Mas cada rosto que surge sugere a imagem de um dia de sol, amarelo, ou a vista de um lago calmo, pacato. Ou as estrelas de uma noite fria. E, de repente, folheio os velhos livros, relembro os velhos hábitos, confronto com o velho eu. Quando eu ainda tinha “a idade da razão”. Ou não.

Ah, se o mundo parece outra vez. 

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