Eu já nem me lembrava mais. Pulava folhas em branco do
caderno, omitia datas e as páginas não escritas perdiam o seu registro. Perdi a
concentração para coisas profundas, pautei a sensibilidade para a superfície. Priorizei
o imediato, o concreto, o palpável. Viabilizei o prazer e os desejos mais
simples. Uma barra de chocolate suíço, um cappuccino italiano.
Quando o telefone tocava, aquela voz embriagada falava, e
tudo em que se acreditava acontecia. Ou prometia. As manchas das uvas mais
nobres nas taças mais finas se apagavam sozinhas. As lembranças esbranquiçadas,
as fotos amareladas e o fogo que consumia o pouco que ainda restava.
Eu não sei quantas voltas o mundo deu. Nem quantas ele ainda
vai dar. Mas cada rosto que surge sugere a imagem de um dia de sol, amarelo, ou
a vista de um lago calmo, pacato. Ou as estrelas de uma noite fria. E, de
repente, folheio os velhos livros, relembro os velhos hábitos, confronto com o
velho eu. Quando eu ainda tinha “a idade da razão”. Ou não.
Ah, se o mundo parece outra vez.
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