segunda-feira, 27 de maio de 2013

Outros tempos

De repente, pensou na rusticidade dos sonhos antigos. Lembrou-se de quando os fios brancos na testa eram apenas uma promessa do tempo. De quando o sorriso era verdadeiro e a inexperiência dos anos, dos sonhos, era sua maior virtude. Havia expectativas, mas essas eram muito mais simples.

Não resistiu pensar nisso por tanto tempo. Não é saudade, de verdade. É tristeza. É a falta do que não existe. Não é a falta das pessoas, do tempo. É a falta do vigor, da fala direta, da independência literária. Do pensamento solto, rolando em coisas verdadeiramente boas, sem ver o tempo passar.

Há, é claro, as pequenas recompensas que conquistara com o amadurecimento. E isso era muito vantajoso. Às vezes.

Olhava todos aqueles rostos, lugares distantes, tão longe quanto as lembranças. Pensava no ciclo, na troca de gerações e em como tudo parecia igual. O sucesso de uns, a incerteza de outros, e a invejável incapacidade de percepção de alguns para tudo isso.

Trocou duas ou três palavras com pessoas longínquas. O vínculo era relativo. Mas suficiente para não sufocar de saudade de si mesmo, antes que a realidade o chamasse de volta.

Entendia o sentido de tudo. Não há mais espaço na garagem para o velho carro branco manchado. E quanta história se perdia com isso. Fechou os olhos e concentrou-se em tudo o que conquistou. E volta e meia, pensava em tudo o que ficou pra trás.


E percebeu que nunca acaba.

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