De repente, pensou na rusticidade dos sonhos antigos. Lembrou-se
de quando os fios brancos na testa eram apenas uma promessa do tempo. De quando
o sorriso era verdadeiro e a inexperiência dos anos, dos sonhos, era sua maior
virtude. Havia expectativas, mas essas eram muito mais simples.
Não resistiu pensar nisso por tanto tempo. Não é saudade, de
verdade. É tristeza. É a falta do que não existe. Não é a falta das pessoas, do
tempo. É a falta do vigor, da fala direta, da independência literária. Do pensamento
solto, rolando em coisas verdadeiramente boas, sem ver o tempo passar.
Há, é claro, as pequenas recompensas que conquistara com o
amadurecimento. E isso era muito vantajoso. Às vezes.
Olhava todos aqueles rostos, lugares distantes, tão longe
quanto as lembranças. Pensava no ciclo, na troca de gerações e em como tudo
parecia igual. O sucesso de uns, a incerteza de outros, e a invejável
incapacidade de percepção de alguns para tudo isso.
Trocou duas ou três palavras com pessoas longínquas. O vínculo
era relativo. Mas suficiente para não sufocar de saudade de si mesmo, antes que
a realidade o chamasse de volta.
Entendia o sentido de tudo. Não há mais espaço na garagem
para o velho carro branco manchado. E quanta história se perdia com isso. Fechou
os olhos e concentrou-se em tudo o que conquistou. E volta e meia, pensava em
tudo o que ficou pra trás.
E percebeu que nunca acaba.
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