sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Dia de fábrica


Eram azuis. Uns mais claros outros mais escuros, mas as cores misturadas ao céu de nuvens pálidas, com sol definido, paisagem comum, tornavam-se uma cor só. Azul. Falavam bobagens com gosto de café, conversas com cheiro de cigarro, barbas por fazer, coisa de sexta-feira. O sexto dia, na prática, o último.

Uma cena cotidiana. Braços e cérebros que despertavam ao nascer do dia com assuntos do povo. Coisa de gente de verdade. O futebol, o carro, a corrida, o dinheiro que nunca veio. O que sempre se sonha. Nada além de mais um dia em que as vozes se entrosavam formando um som só. Barulho de gente que existe. Que sua. Vibra. Chora. E ri.

Só mais um dia de fábrica. Quantos ainda haverá? Não se sabe. Mas torcem, rezam. Pedem. Desejam além. Sonham com um milagre absurdo. O prêmio da loteria. A loira da confeitaria. A promoção, um dia. Outra vida.

Levam o cansaço no corpo. Na mente. Pra dentro de casa. Dividem com as esposas, maridos, filhos. Assumem o controle. Da TV. Relaxam. Um banho, jantar, amor, indiferença. Qualquer coisa assim. Pensam no descanso para amanhã.

E se tudo não recomeça, há choro que não se explica. Pela falta de grana e de culpa. Mas há de se viver melhor. Com amor e esperança. Fé.

Não. A fábrica nunca para.