Eram azuis. Uns mais claros outros mais escuros, mas as cores
misturadas ao céu de nuvens pálidas, com sol definido, paisagem comum,
tornavam-se uma cor só. Azul. Falavam bobagens com gosto de café, conversas com
cheiro de cigarro, barbas por fazer, coisa de sexta-feira. O sexto dia, na
prática, o último.
Uma cena cotidiana. Braços e cérebros que despertavam ao
nascer do dia com assuntos do povo. Coisa de gente de verdade. O futebol, o
carro, a corrida, o dinheiro que nunca veio. O que sempre se sonha. Nada além
de mais um dia em que as vozes se entrosavam formando um som só. Barulho de
gente que existe. Que sua. Vibra. Chora. E ri.
Só mais um dia de fábrica. Quantos ainda haverá? Não se
sabe. Mas torcem, rezam. Pedem. Desejam além. Sonham com um milagre absurdo. O prêmio
da loteria. A loira da confeitaria. A promoção, um dia. Outra vida.
Levam o cansaço no corpo. Na mente. Pra dentro de casa. Dividem
com as esposas, maridos, filhos. Assumem o controle. Da TV. Relaxam. Um banho,
jantar, amor, indiferença. Qualquer coisa assim. Pensam no descanso para
amanhã.
E se tudo não recomeça, há choro que não se explica. Pela falta
de grana e de culpa. Mas há de se viver melhor. Com amor e esperança. Fé.
Não. A fábrica nunca para.
Um comentário:
lindooo
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