Eu tive dias cinzas. Noites turvas, como a água escura de um pequeno aquário. Mergulhei num universo desconhecido. Vi as coisas de uma perspectiva jamais percebida. Foi a primeira vez que a sensibilidade trouxe medo. Um pavor que consumia os sentidos. Quase um caminho sem volta.
Vi meus olhos distantes. Evitei falar. Tentei não sentir. Mas o concreto não possui controle algum sobre o abstrato. E por que simplesmente não vivo todos os dias como se fosse o mesmo?
A mesma rotina, os mesmos sonhos mesquinhos, a mesma insensatez clichê. Não era mais questão de escolha. “Sinto muito, meu caro, aquele homem de quarta-feira não será mais o mesmo na quinta”, sentenciou o pensador.
Dia após dia, um teste de fé. E passei. Acreditei, mesmo quando não parecia ter fim. Os dias não voltam atrás. Mesmo. Mas as coisas voltam a ter, de novo, a mesma dimensão. A realidade. Tão confortável quanto antes.
Eu não forço as lembranças. Para tentar me esquecer como foi.
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