domingo, 10 de abril de 2011

O escritor sem arma

E eu sem minhas armas. Terno escuro, tão formal como o contexto exigia. Bolsos vazios. Frases bem elaboradas na mente. Nada que fosse possível lembrar agora, de imediato. E até me lembrei de você, quando dizia que “falo sem dizer”, aquilo que o escritor sente. De fato, era isso que ansiava por fazer, o tempo todo.

O mesmo jeito escrachado ao falar. Gargalhar, então, nem se fale. Mudança completa, mas pouco importa. Aceitei o jogo do extraterrestre. É divertido exercitar a “prática do invisível”. Mas a elegância era indispensável, ao menos a minha, claro. Classe é fundamental, não para disputar, mas ao contrário, para não ter o que disputar.

E eu sem minhas armas. Nenhum meio de comunicação. O que seria de mim sem ao menos uma caneta? Agora eu sei o tamanho da angústia. Eu nem estaria ali. Não é a mesma coisa que um programa dominical, uma sala de cinema qualquer. A sobriedade local vazava pelos poros.

Mas quando eu me acreditava inacessível, o som certeiro de quem se impõe ao local me encontrou. Acertou meus ouvidos em cheio, sem que eu pudesse me desviar. Tive, até mesmo, que me aproximar. Por pouco tempo, eu não tinha a mesma carteira de amigos para colecionar e trocar. Ainda bem.

Era como se, no salão, as pessoas gritassem: “Ei, escritor, registra essa também”. Sou egoísta o suficiente, para passar de lado, desviar a atenção. E só dizer o que quero. Sem revelar.

Ainda lamento só ter manchado o papel agora.

Um comentário:

Quem escreve disse...

Cada dia melhor, querido amigo, cada dia melhor...