quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

No último dia

Minha grande fortaleza. Meu castelo de papel. Meu brinquedo de areia. Os olhos já enrugados não suportam mais lágrimas. A face cansada, a expressão de exaustão. O sentimento que não se evita, que parte ao meio, reparte os inteiros, espalha pedaços. Cacos. A vida corrida, a morte tão ávida, o semblante do adeus.

O sofrimento que não para. A confissão de impotência. Aos velhos, a glória. Aos jovens, a virtude. E o menino que ainda engatinha, aprende as primeiras palavras e coloca no seu dicionário a morte tão arbitrária, urgente, um grande vento abstrato.

A mente voando, lembranças um tanto embaçadas, emoção que não se apaga. A briga com o menino mais velho, a defesa do irmão do mais novo, menina que enfrenta menino e bate na rua, no bar, ameaça, com aquela cara tão brava, a mesma aprendida com o pai.

Se a dor há de passar? Há quem acredite que não. Sobram os que tem a certeza. Se a vida há de seguir? Claro, até que a morte regresse. Se culpa há de sentir? Não para os que tem amor. As palavras hão de acabar, mas os olhos, ainda, hão de lagrimejar.

2 comentários:

H. Machado disse...

Deixe as lágrimas virem. Elas são você agora, depois de grande, se defendendo. Agora você pode se defender, do seu jeito, é claro. Mas há alguém que continuará a te defender para sempre. O fundo de escuridão não poderia ter caído melhor.

Quem escreve disse...

Por Enquanto, Caro amigo, respire fundo que isso trará força. É o sentido das coisas, são elas acontecendo. Sabíamos, sempre. Só não a esperamos. E é assim. FORTE ABRAÇO.

"Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba...

Mas nada vai
Conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí então estamos bem..."