domingo, 17 de outubro de 2010

Quando eu era um semideus

Longe de qualquer plano afetivo ou saudosista que se possa imaginar. Quando ela veio em minha direção, não fiz nenhuma menção ao passado, nem mesmo referi a qualquer ideia em torno de “bons tempos aqueles”. Mas é inusitado perceber, assim, repentinamente, que as pessoas exercitam o ato de viver, evoluem, mesmo quando esquecemos que elas existem. Não esquecemos por mágoa, nem decepção, nenhum sentimentalismo, mas simplesmente porque o tempo adormece em nossa lembrança as coisas (e pessoas) das quais nos desligamos por razões naturais.

E se houve qualquer demonstração aparente de carinho, foi estritamente fraterno; uma contemplação dessa circunstância de perceber que as pessoas continuam a existir e a viver em outros planos. Tão estranha foi a essa sensação que nem mesmo percebi o que estava a caminho e esqueci completamente de formalizar algo como “parabéns”, conforme sugere o o bom costume.

Apenas palavras mecânicas. Aquela velha conversa de sempre. Seus pais, seus filhos, seu trabalho, até logo, tchau. Mas por horas ficou aquele espírito de: “Nossa! Quem diria”. Também não passou disso. E logo voltou ao esquecimento temporário. Até que uma casualidade qualquer me remeta, novamente, ao tempo em que eu gostava de imaginar o futuro em que nada era planejado, mas que haveria de ser um trunfo. A época em que me era permitido não ter razão. A juventude eterna. A idade em que podia ser semideus.

2 comentários:

Roberta Mendes disse...

Seu texto tem gosto de "Sinal Fechado". Fiquei cantando nas entrelinhas "pra semana/ o sinal/ eu procuro você / vai abrir, vai abrir/ eu prometo não esqueço / adeus/ por favor não (me) esqueça/ adeus". O mais grave de "esquecer" alguém que nos foi importante é esquecermos por tabela quem fomos quando era importante.

Anônimo disse...

Me pego por vezes atualmente, mais comumente do que gostaria, confesso, com pensamentos de conclusões e constatações sobre o semideus que criei para enfrentar toda vida que tinha à frente e o ser humano que sou hoje com toda sua realidade.
Talvez o balanço entre o imaginário e o realmente vivido é o que se chama experiência, e desta forma trocamos nossa condição de semideuses pelo conforto da idéia de uma sabedoria, se é que podemos assim chamar, para continuar; mudando e evoluindo, mesmo longe dos olhares dos que deixamos seguir seus caminhos.