Longe de qualquer plano afetivo ou saudosista que se possa imaginar. Quando ela veio em minha direção, não fiz nenhuma menção ao passado, nem mesmo referi a qualquer ideia em torno de “bons tempos aqueles”. Mas é inusitado perceber, assim, repentinamente, que as pessoas exercitam o ato de viver, evoluem, mesmo quando esquecemos que elas existem. Não esquecemos por mágoa, nem decepção, nenhum sentimentalismo, mas simplesmente porque o tempo adormece em nossa lembrança as coisas (e pessoas) das quais nos desligamos por razões naturais.
E se houve qualquer demonstração aparente de carinho, foi estritamente fraterno; uma contemplação dessa circunstância de perceber que as pessoas continuam a existir e a viver em outros planos. Tão estranha foi a essa sensação que nem mesmo percebi o que estava a caminho e esqueci completamente de formalizar algo como “parabéns”, conforme sugere o o bom costume.
Apenas palavras mecânicas. Aquela velha conversa de sempre. Seus pais, seus filhos, seu trabalho, até logo, tchau. Mas por horas ficou aquele espírito de: “Nossa! Quem diria”. Também não passou disso. E logo voltou ao esquecimento temporário. Até que uma casualidade qualquer me remeta, novamente, ao tempo em que eu gostava de imaginar o futuro em que nada era planejado, mas que haveria de ser um trunfo. A época em que me era permitido não ter razão. A juventude eterna. A idade em que podia ser semideus.
2 comentários:
Seu texto tem gosto de "Sinal Fechado". Fiquei cantando nas entrelinhas "pra semana/ o sinal/ eu procuro você / vai abrir, vai abrir/ eu prometo não esqueço / adeus/ por favor não (me) esqueça/ adeus". O mais grave de "esquecer" alguém que nos foi importante é esquecermos por tabela quem fomos quando era importante.
Me pego por vezes atualmente, mais comumente do que gostaria, confesso, com pensamentos de conclusões e constatações sobre o semideus que criei para enfrentar toda vida que tinha à frente e o ser humano que sou hoje com toda sua realidade.
Talvez o balanço entre o imaginário e o realmente vivido é o que se chama experiência, e desta forma trocamos nossa condição de semideuses pelo conforto da idéia de uma sabedoria, se é que podemos assim chamar, para continuar; mudando e evoluindo, mesmo longe dos olhares dos que deixamos seguir seus caminhos.
Postar um comentário