quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Espelho

E o que faz o homem ali, fingindo ser jovem, vestido como velho? Carrega no rosto as marcas de toda a incerteza, uma improvável sentença de vida além da simplicidade. Frequenta lugares calmos, gosta de sentir a essência das coisas importantes. Faz gestos e expressões sérias, difícil é descontrair naturalmente, sem uma aparência ensaiada ou uma postura forçada.

Parado, sem muita clareza de pensamento, só pensa no que lhe é útil. Guarda aquilo que valoriza, mesmo quando deveria. E olha alucinado para o mundo, como o menino às luzes de festas. Mas não é, nem de longe, aquilo que representa e que até gostaria de ser. Foram-lhe negadas a chances da autenticidade completa. Assume o que é necessário, desde que optou a prender-se ao cenário de futilidades e facilidades da vida moderna. É o preço e está disposto a pagar.

Calado como em qualquer dia. Ri ao revelar a si mesmo os absurdos aos quais se rende. É, secretamente, divertido observar o caos bem pertinho ao desviar-se dele. Acredita na divindade das coisas. É a força que rege o mundo, o seu mundo, excluindo qualquer egoísmo, por agora.

Sentado, repousa a face sobre a mão. Tem a testa franzida, como se escutasse. Os olhos sérios, como se entendesse. As mãos firmes, como se soubesse. Mas observa a si mesmo, ainda sem saber o que, de fato, faz ali.

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