segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Entre o profano e o sagrado

Ah, se os olhos pudessem não perceber. Se o brilho louro não ofuscasse a vista desfocando tudo o que se tornara excesso. Quanto de belo levam aquelas lentes claras, repousando sobreo rosto branco, com lábios rosa que não sorriem. O tempo fora generoso e assim parece persistirá. Expectativas, um olhar encontrado ao acaso, uma sutileza dos traços, e todos os detalhes que definem a cena. Pronto. Ele já cumprira o ritual de admirá-la em sigilo.

E o que será da esperança no dia em que não mais se encontrarem? Há de chegar tal momento, a ideia será só lembrança daquilo nunca concretizado. Mesmo que ainda crua, ele a deseja nua. Há de ser assim, até que outras imagens tomem o espaço do imaginário. Mas há algo de diferente nela. Um ar de inocência, talvez. Tudo o que, certamente, irá se perder.

Em silêncio, caminhando próximo, ele busca um último olhar. Um ato secreto de despedida solitária, até um próximo encontro, em que possa vê-la, ao lado, por perto, intocável. E sonhar, naqueles segundos de distração, uma vida inteira de amor intenso e desejo profundo. Almas que flertam entre si. Corpos que se entenderiam, com certeza. Num mundo distante daqui, onde a luxúria fosse aceitável e onde o pecado não habitasse esse palco sacro.

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