terça-feira, 20 de abril de 2010

Um breve instante

Ele chegou bem devagar, assim, como quem não quer nada. Apenas sentou junto ao balcão, onde podia visualizar melhor a entrada e todo o movimento. Pediu um café bem quente, gosta de sentir a fumaça que sai da xícara, aquecendo a manhã, como um raio de sol num dia bem frio. Não usa óculos, mas sente-se observador como se os usasse naquele momento.

Bom mesmo seria que aquele momento durasse mais, não apenas aqueles poucos minutos em que via tantas mulheres belas, homens simples, pessoas singelas, cada qual com sua origem, sua história e seus medos. Às vezes até se lembrava dela, mas procurava minimizar a importância da saudade.

Para cada um que entrava, um pensamento diferente lhe ocorria. Era divertido brincar de saber, fingir conhecer, passear nos mundos imaginários. A roupa, o andar, os movimentos eram fatores que influenciavam a análise. Como aquele homem vivido, camiseta surrada, palavreado espontâneo, que lhe lembrava o bobo da corte, não de maneira pejorativa, mas em sentido lúdico.

E o que sentia não podia dizer. Não contava a ninguém, nem a si mesmo, para que palavras não saltassem pra fora sem sua permissão, como que num ato de rebeldia verbal desencadeada pelo lado obscuro de seu ser.

Sentia-se bem sozinho. E assim haveria de permanecer por dezenas de minutos, que pareceriam dias de contemplação e pouca lógica. Não importava. Tudo o que desejava era que os dias fossem assim tão perfeitos como aparentavam naquele instante.

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