quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A simplicidade e a falta

Há certas coisas que acontecem uma vez só na vida. Mas a gente só se dá conta depois que tudo passa. Porque tudo há de passar, não importa o quanto pareça durar. E todas aquelas banalidades do dia-a-dia fazem falta. Quando ela deitava na cama, enrolada na toalha molhada, despreocupada com o mundo, enquanto ele insistia em pensar nos lençóis que ficariam úmidos de noite. Até o silêncio, antigamente tão desejado, hoje deixa tudo tão vazio. Ou quando ele deixava o copo de whisky com gelo derretido, em cima do criado mudo, toda sexta de noite, quando bebia pra relaxar. Nada mais triste que a ausência do óbvio.

O corredor agora parece tão grande. Tão vago quanto a alma que ele se esquecera de cuidar ultimamente. As roupas, hoje, tão mal cuidadas quanto a barba que cresce. Toda a complexidade perdida do que um dia se fizera tão simples. As caminhadas nas manhãs nubladas ficaram mais longas, embora os percursos sejam, de fato, mais curtos.

Ao olhar o espelho, pensando todas essas coisas, ele não deseja nada além de voltar pra casa. Ver de novo aquele sorriso fácil; imagem com a qual sonhara tantas noites nos últimos meses. As chaves do carro e a camada de pós ao redor, em cima do criado mudo, deixam tudo tão cinza o tempo todo.

A vida nunca mais seria a mesma. Não mesmo.

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