quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Más intenções

Não imaginava que aqueles cabelos longos e negros causariam tanto estrago. Um prazer sádico de quem alcança o êxtase ferindo. Ou não. Mas perto de qualquer imoralidade, ele não evitaria encostar a boca naqueles lábios únicos, desejados e difamados. Sentia um breve frio na espinha, algo semelhante à sensação do vilão, mas longe de qualquer poder de inibição, as circunstâncias só o instigavam a ir além e sentir o gosto do pecado.

Estava condenado a lembrar-se do quão insensível e cruel poderia ser com o que ronda o seu cotidiano. Sabia disso. E, ainda assim, entregou-se ao desejo secreto e proibido de tê-la tão perto, tocar o corpo dela com o seu. Sentiu o mesmo prazer do vício ilícito, momentâneo e mortal, nem por isso hesitado.

Tão branca, tão clara. Olhava-a como a um troféu. Nenhum sentimento de culpa ou de apreço. Nada que atenuasse o peso do ato. Nada além do carnal, como deve ser para legitimar o crime. E provou cada estímulo provocado, desde o olhar, para que lembrasse muito bem do gosto, do cheiro e do toque.

O desastroso era o depois. O que não tem volta. A indiferença que os envolveriam, como se tudo fosse à toa. As marcas da indisciplina que não tem mais conserto. O falso olhar que o acompanharia para sempre e o sorriso maldoso que ela não mais tiraria do rosto.

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