domingo, 13 de dezembro de 2009

Narração do sobrevivente

E assim sucedeu-se, conforme as memórias me permitem relatar, de modo breve, impreciso, mas intenso, aquilo que os olhos da ilusão viram amedrontados e inquietos.

Uma pequena desavença pode se transformar em grandes tempestades, irremediáveis e de conseqüências imensuráveis. E, depois de iniciada, por motivo incerto, veio uma fuga desesperada, não de alguém específico, mas de um exército sanguinário e delinqüente. Do lugar, definem-se apenas os telhados e muros por onde a fuga se concretizara.

O cerco aumentava e era cada vez mais difícil escapar da morte. De repente, um cenário vermelho e dezenas de milhares de pessoas eram varridas da terra, como se atropeladas numa guerra campal. Sobressaia-se a cor vermelha, os gritos de horror e gente morta aos pedaços por todos os lados. Mas eu ainda podia escapar. Havia a consciência da habilidade em criar estratégias imediatas para se manter vivo, mas não era possível saber até quando, pois a cada vez que dobrava a esquina, novos assassinos me esperavam.

Era uma guerra perdida a qual nem mesmo queria lutar. Apenas me concentrava em ficar vivo. E as pessoas morriam quase que instantaneamente na luta, sobrando apenas o exército opressor. E eu ainda estava vivo. Não havia ônibus, aviões ou qualquer transporte que pudesse ser utilizado. Era como se as cidades, estados e regiões não tivessem fronteiras. Não havia a consciência de um mundo estrangeiro, portanto não há considerações relevantes sobre possíveis intervenções.

Mas o terror era indescritível. Alguns tentavam reagir, mas morriam, mesmo em grande número. Havia alguns alojamentos nos quais podia me esconder por pouco tempo, mas novos conflitos começavam ali. A morte vinha devastando tudo, como se fosse a água do oceano a lavar a terra. E eu sobrevivia.

Não havia vínculos afetivos, nem parentes, nem amigos. Apenas a fuga constante da morte. E predominava o pensamento: “como isso irá acabar?”. E acabou sem explicação, com os olhos abertos, olhando o teto.

2 comentários:

H. Machado disse...

Não sei se isso é bom ou ruim, mas sempre, sempre acaba desta forma. Sempre acaba.

naakey disse...

Eu acordaria assustada. Muito assustada rs...