Ele pensa nos números. Números que invadem o imaginário. O endereço, a casa, o horário, a repetição. Setecentos e vinte e sete segundos olhando para os mesmos olhos verdes, a 45 graus de sua posição. Anda dois ou três passos, se aproxima. Ganha um sorriso. Confiança. Desconfia. Pensa. Hesita aproximar-se. Perde de vista. Desqualifica todas as possibilidades. Novo sorriso confunde de novo seu imaginário. “Será?”
Não pode ser. Não deve ser. Não faz sentido. Ou faz? Quantas possibilidades para uma única oportunidade. Bebe um gole para encorajar-se. O gosto é amargo. Parece um sinal. Deve ser um sinal (sempre o mesmo negativismo – um caso clínico). Ele esbanja descontração. Tenta parecer solto, seguro. As mãos quase tremem segurando o copo, mas não se percebe, ainda está razoavelmente escuro.
Parte para o olhar direto, sem disfarce (isso sempre funciona. Será?). Há reciprocidade, mas tão sutil que não o encoraja para a abordagem. Fita-a sistematicamente. Ela aceita. E agora? Desvia, dança, movimenta-se. Decorara o mexer das pernas, o balançar do vestido, a estética do salto (e toda perversão contida nesse contexto). Fica mudo, paralisado. É deslumbrante.
Os números do relógio correm. A hora passa. É fim de noite. Ela acena receptiva e rapidamente se fecha num simbólico “tchau”, que esconde um “até nunca mais”, disfarçado de um “até um dia talvez”. Não era pra ser, mesmo sem querer. Vence o medo da reprova. De novo.
Um comentário:
construindo o imaginário...
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