segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Navegando

Ele insiste. Não gosta da negativa. Mas percebe o fracasso. Sente náusea. Formigamento no corpo. O rosto queima. Raiva de si mesmo. Quanta prepotência colocar-lo em jogo. Talvez seja melhor sair sem avisar mesmo. Os telefones mudam. As pessoas aparecem e somem. Se o vinho não era tão nobre, por que ele ainda segura a taça?

Ela não tem charme. Não usa saltos. Perfumes fracos. Conversas soltas. Mas domina a sua natureza feminina. Explora seu manequim, mesmo não se orgulhando. Não demonstra constrangimento, ao contrário, esbanja desprendimento. Por isso, ele não resiste. Não pede, mas olha, encara, deseja. Descarta. Convida. E parte, sozinho.

Ele trilha caminhos. Outros copos, outras moças. Mente, desmente, grita a verdade. Fala macio ao pé do ouvido. Repete frases decoradas. Cria outros mundos, personagens. Senta do outro lado, o convite foi dela – uma primeira visita, coisa básica para esquecer outras faces. Dialoga, se arrepende. É tarde, pede água, mais nada. Conta histórias mortas, deseja não estar ali, ensaia métodos para encerrar a entrevista. Espera aproximar-se dos lábios.

Viaja para outros lugares. Anda por ruas largas. Avenidas diferentes. Ele vive cada instante. Abandona os pensamentos. Começa de novo. Deixa a barba, livra-se dos óculos. Roupas novas, perfumes especiais, sempre. Ele, agora, é outro mundo. Bairros vazios, celular desligado. Nova identidade, mas a velha impaciência persiste.

Dias de calmaria. Apenas um descanso para a mente. Impossível esquecer de verdade. A carga emocional atrapalha, mas não impede. Tenta viver todos os dias. No bar com os amigos, no café solitário, na casa das moças.

Ele volta pra casa. Apenas mais um dia difícil. A cama o espera para compensá-lo. A noite será o descanso do corpo. E todas as fantasias tornar-se-ão sonhos.

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