segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Quando o mundo se faz triste

As lágrimas caiam compulsivamente. Ela não poderia acreditar na notícia, ouvida assim, tão repentinamente. Ele só conseguia focar sua visão num ponto neutro da sala, um branco qualquer da parede, qualquer espaço que contrastasse com a barba serrada do homem que, próximo a porta, observava impotente a aflição de quem acabara de saber do fim do mundo.

Tudo se tornava pequeno naquele instante. O mundo era agora um lugar menor, tão previsível quanto o espaço da sala. Todas as palavras de amor e ódio já proferidas perderam o peso. Restava a esperança dos próximos dias, das declarações que estariam por vir, se é que as bocas ousariam dizer o que a mente mencionava silenciosamente.

De que forma poderiam viver agora? Quais as perspectivas depois daquela trágica tarde? A chuva deixava gotas d’água na vidraça, escorrendo lentamente, tão devagar como as horas demoravam a passar. E todos os dias haveriam de ser assim. Ainda estavam para chegar as palavras de conforto, as esperanças vãs. Mas o fim era algo triste, certo e irreparável.

Era assim que ele se lembrava de tudo, como se ainda fosse hoje, ajoelhado junto á lápide cinza, maltratada pelo tempo. Talvez pudesse ser um sonho, do qual ainda não acordara. Esperava, por Deus, sair do pesadelo, ou, simplesmente, dormir para sempre, ao lado dela, à luz da eternidade. Já em pé, de volta ao carro, lamentava a maldita vida e a má sorte. Beirava a insanidade. Sentia o cheiro dela, como se ainda estivesse ali. E estava.

Um comentário:

Carol Javera disse...

Entendo perfeitamente.