sexta-feira, 5 de junho de 2009

Uma data (como outra qualquer)

O dia se aproxima. O calendário em cima da mesa de trabalho, despretensiosamente, anuncia a chegada da data dentro em breve. Mas muitos dias como esse já se foram. É apenas mais um número. Anos incontáveis se passaram sem que ele tivesse se atentado para o fato de que, de repente, tal ocasião merece uma suposta comemoração, no íntimo de sua imaginação. Talvez pela lembrança daquela vez em que foi autor de um gesto delicado, quem sabe apenas uma tentativa de aproximar novamente seus lábios dos dela. Um tempo se passou para que ele entendesse que o carinho era algo quase fraternal, não fosse uma certa atração psicológica (e não exatamente física).

É possível que a data passasse despercebida, sem que ao menos fizesse um pensamento positivo, desejando-lhe sorte. Mas as comunicações modernas, o mundo em conexão com tudo não o deixam esquecer detalhes como esse. Então, ele observa aquela foto há tanto tempo guardada no fundo de uma gaveta secreta. Lembra com saudade não dos doces beijos, nem tão pouco da suavidade do vinho, mas sim da perspectiva de futuro que tinham naquela época. Recorda-se de ter observado as estrelas, de rir abraçado falando trivialidades. Com certeza, isso sim fazia a maior falta.

Alguém já havia dito que as lembranças ficam adormecidas em nosso coração, até que sejam despertadas por alguma razão. Era isso que acabava de acontecer, anos após aquela noite, a noite que simboliza o breve ciclo. Fotos e datas haviam trazido à tona tais sensações, a falta daquele romantismo inocente (e até inapropriado para as circunstâncias). A saudade daquela voz, delicada e suave era o que mais o entristecia. Tantos anos sem que ouvisse uma só palavra por ela pronunciada.

Sentado em sua mesa, apenas a luz do monitor a iluminar o quarto, ele deixa que todos esses pensamentos lhe percorram a mente. O relógio marca mais de duas horas da manhã. Ele esfrega rapidamente as mãos no rosto, de modo a recuperar a concentração na realidade que ainda lhe resta, guarda novamente as fotografias na velha gaveta empoeirada, fecha os olhos e pensa pela última vez naquele tempo longínquo. Veste o mesmo pijama de todas as noites, deita, já com o quarto totalmente escuro, e aguarda até que o sono lhe domine, na esperança de que os sonhos o levem para outros mundos.
Feliz aniversário!

Um comentário:

Carol Javera disse...

atração psicológica?! gostei!
a minha gaveta tá cheia de ótimas lembranças.