segunda-feira, 1 de junho de 2009

O telefone que nunca tocou

O telefone sobre a mesa fazia uma sombra um tanto sinistra, devido à iluminação do ambiente. Uma mesa de madeira escura, um telefone negro, um abajur aceso e a noite invadindo o dia calma e silenciosamente. Olhar fixamente para o objeto pode dar a impressão de que aquilo pode se comunicar com as pessoas. E era exatamente isso que acontecia com o rapaz. Ele olhava para o telefone, quase que implorando uma resposta para sua dúvida. Devia ou não ligar?

Talvez não fosse necessário, nem mesmo adequado. A reflexão parte, então, para o campo dos sentimentos. “O que eu sinto de verdade?”, pensava. Enxergar com clareza a natureza do que se sente não é, de fato, uma tarefa fácil. Mas o olhar perdido para a sombra do aparelho também não estava mais ajudando.

Começou, então, a se perder nos pensamentos, imaginando todas as funcionalidades do telefone, os avanços tecnológicos e como tudo se banalizou em virtude do fácil acesso à comunicação. Ninguém mais espera uma ligação como antigamente. Não se trata de nenhum acontecimento. Também por isso, ele hesitava em ligar.

Os pensamentos vagavam tão livremente, que, mesmo sem querer, ele já apresentava uma ligeira sonolência. E, de novo, o dia não poderia ser como planejado. Nada daria certo. Já é quase uma tradição as palavras não serem ditas, os lábios não se encontrarem, o amor não acontecer e o telefone jamais tocar.

Um comentário:

Quem escreve disse...

e hoje eu estranho quando batem palma/tocam campainha/o porteiro interfona antes de avisar pelo telefone que isso ia acontecer. Vira um caos o meu mundo e eu não sei se gosto disso...