Aquele menino saberá exatamente o que é ter experiência, perder a inocência, entender o lado negro das pessoas, das melhores e das piores. Bastava que ele caminhasse pelo corredor, com quatro livros grossos na mão, andando desajeitado, até que eles espalhassem tudo no chão. Nesse instante ele aprende o sentido das coisas. Não se pode confiar em ninguém. As pessoas são cruéis e ter entendido isso, de maneira definitiva, logo, imutável, era mais que suficiente para que a dor da ingenuidade dispersasse.
Agora aos 12, ele distribui sorvetes por toda a rua. Quarenta centavos em dinheiro atual. Um montante de poucos trocados, perdidos, depois que todas as crianças se negaram a devolver-lhe a quantia. Também ali o alívio e a satisfação por sentir-se capaz de enxergar a maldade nos corações. Tudo passa, a experiência fica.
E sentia no estômago a insegurança. Cada dia mais distante de todas as pessoas. Em casa parecia outro mundo, o respeito, carinho e tudo mais agora era cansativo, incoerente com as ruas para as quais voltaria todas as manhãs, caminhando para a escola, sonhando com a liberdade, prendendo-se ocultamente.
Mas todo o dia tem prova. As notas nem sempre altas. E ainda hoje caminha contando as linhas no chão. Olha pro céu e imagina. Espera pela hora do passeio. Deseja o conforto do lar. A cada dia, tudo mais duro e complicado. Por que então insistir em esperar pó um ato de bondade? Até parece que ainda não aprendeu a conhecer as pessoas. Quanta ingenuidade.
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