Ele caminha pelas ruas da cidade, todas bem iluminadas, nenhum cenário sinistro ou capcioso. Poderia ir de carro, mas preferia andar, gostava de sentir brisa do inverno, além disso, pensava melhor quando caminhava, sempre olhando tudo a sua volta, mas nada enxergava realmente, pois o pensamento voava e distraia-lhe a vista. Nem percebia detalhes interessantes no trajeto, como flores exóticas em um jardim requintado de uma bela casa, a qual sempre admirara. Mesmo assim, preferia ir a pé.
Às vezes as dores no corpo o perturbavam, fazendo-o pensar na importância de ser livre, não emocionalmente, nem sexualmente, menos ainda financeiramente, mas apenas livre da dor que o impedia de esboçar determinados movimentos repentinamente. Nada poderia ser mais triste do a impossibilidade de mover-se como desejasse, em decorrência de um mal que, acreditava ele, médicos não resolveriam, pois era algo simples demais. Tão simples que não deveria haver cura, apenas algum alívio temporário.
Distraído com esses pensamentos sem importância, esquecia-se das coisas em que realmente queria manter a concentração e não conseguia fazer isso premeditadamente. Fechava os olhos e imaginava toda a fortuna que cobiçava há tanto, por um instante deseja todas as mulheres do mundo, ao mesmo tempo em que as repudiava.
Sentiu vontade de se manifestar, de dizer coisas que vinham à mente, tinha o direito, enfim, de dizer aquilo que pensava. Não, estava errado (e sabia disso). Estava exposto demais, marcado demais, a noite demasiadamente clara, as luzes em perfeita iluminação, usava roupas claras, não tinha um chapéu, nem nada que o escondesse. Não poderia então dizer a que veio. Poderia ser descoberto. Não pronunciou nem mais uma palavra. Calou-se.
Um comentário:
Talvez se não houvesse tanta luz ou se não nos escondessemos tanto. Talvez se tivéssemos chapéu ou se tivéssemos coragem...Talvez.
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