domingo, 7 de junho de 2009

Antes do banho

Ele não devia ter lembrado naquela hora. Mas como esquecer aquela noite, mesmo diante de um sol escaldante. A imagem da lua era perfeita, quase piegas, mas ainda assim lindo, como nos filmes de amor. A natureza é um fator determinante na construção de um cenário romântico e, nessa ocasião, ela brindou o encontro oferecendo um luar como poucos vistos. O frio tornava a ocasião ainda mais especial. Um pretexto para abraçá-la e uma desculpa pelo tremor no corpo. Mas não havia amor. Cheirava sexo. Forte. Lençóis escuros, janela aberta e as estrelas testemunharam.

Mas era outro dia. Fazia calor. O local se cala, mas a energia continua concentrada, como se escondesse o crime. Ninguém os viu naquele dia. Mas a respiração ofegante, os gemidos abafados, o suor dos corpos, tudo o que constituíra aquela noite se fazia presente de uma forma inexplicável em sua mente. “Eu me lembro de você”, acusavam em seu pensamento as pedras e todos os elementos que ali permanecem para todo o sempre. A natureza o denunciara e ele sentia isso.

De rente, de volta a sensatez. Não a amava. Talvez a tivesse desejado (da mesma forma que naquele instante queria despir a moça ao seu lado). Tentava entender a atração. Por que ela se manifesta pelas pessoas mais inusitadas (e nos momentos mais inoportunos possíveis)? Queria sexo, mas evitava esse pensamento para não olhá-la demasiadamente. Havia esquecido por um momento daquela noite. Planejava outras noites, mais vulgares ainda (quanto mais, melhor).

Alguém o chama para o banho. Acordou de seus pensamentos. Olhou em volta para se certificar. Alívio. Ninguém escutara seus pensamentos. Caminhou até a cozinha. Bebeu água. Esqueceu-se do banho. Permanecia sujo. Mas não se notava.

Um comentário:

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Passamos por aqui. Será que sempre ninguém escuta nossos pensamentos?