terça-feira, 26 de maio de 2009

O amor e a biblioteca

Os corrimões de ferro, pintura preta, trazem à mente a lembrança do tato ao se apoiar, desnecessariamente, naquela estrutura gelada para subir os quatro ou cinco degraus que davam acesso ao rico acervo de livros, poucos realmente lidos. O jardim, com bancos de concretos acinzentados (jamais utilizados de fato, servindo, aos seus olhos, apenas como decoração) contrastavam com a presença das motocicletas, umas acorrentadas, outras simplesmente estacionadas. O misto de sensações afloradas nos momentos em que se dirigia àquele local é lembrança forte na vida do rapaz.

Cruzando com todas aquelas pessoas, percebia o barulho da cantina principal, sentia o cheiro dos ternos escuros daqueles que hoje devem ser advogados. Ao mesmo tempo, trombava com as moças vestidas com jeans, sandálias baixas, pouca criatividade na apresentação estética, o que normalmente implicava em relativa dose de potencial acadêmico. Essa mistura de perfis fazia do lugar um ambiente neutro, e, então, sua mente trabalhava em uma velocidade assustadora, jamais imaginando que um dia se recordaria com tamanha riqueza de detalhes de todo o trajeto até a biblioteca, com a costumeira observação do refeitório e a solitária capacidade de abstrair-se.

A maior parte daquelas pessoas com as quais cruzou nessas ocasiões nunca mais passará por lá. Ele não se lembra de seus rostos, de seus tamanhos, mas consegue imaginar a diversidade de histórias que perambulavam pelos corredores, praças e jardins. Impressionante pensar que as construções foram projetas e criadas pelo homem, que muda constantemente, se locomove e desaparece, mas tudo o que foi levantado permanece lá, abrigando novas vidas

De posse do pequeno livro de filosofia, ele parte em direção ao ponto de ônibus, deixando pra trás o rastro de sua existência naquele local e contexto, assim como todos os que anonimamente por lá passaram. Rapidamente ele volta à realidade, folheia as páginas quase amareladas e pensa em todo o conhecimento que irá adquirir ao final da leitura. Em alguns minutos o rapaz está de volta ao mundo particular, sem imaginar o quão forte ainda baterá seu coração durante os anos passados ali.

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