terça-feira, 26 de maio de 2009

A moça e o rapaz

Assim balançavam seus cabelos cor de mel, na altura dos ombros, soltos ao vento, quase um clichê do cotidiano, convidando-o a um abraço, promovendo o encontro dos corpos, o contato da malha das roupas, a troca de calor enfim. Um sorriso quase doce encantava o rapaz, que fingia conhecer todas as intenções maliciosas ou ingênuas daquele olhar duvidoso.

Uma voz aveludada, em tom sereno, pronunciava em sua mente “Vai me permitir ir embora?”, sem que um músculo do rosto dela houvesse se movimentado. A resposta à pergunta também soava melancolicamente, com tom incerto de quem diz “não sei o que devo fazer”. Sim, eles conversavam mentalmente.

A moça, então, vira-se dando as costas ao rapaz e caminhando em direção ao mundo de verdade. A imagem dele perde a opacidade e pouco a pouco irá se apagar irreversivelmente. Com os ombros pesados, corpo estático, o rapaz observa o horizonte, já quase tão distante quanto ela. Sem pronunciar uma palavra, ele percebe a chuva fina tocando a superfície de sua face, recorda-se por alguns segundos de todos os beijos ardentes que nunca deram, fecha os olhos e, por um instante, quase sente, novamente, a ponta dos cabelos dela escorregando em seus dedos a fazer-lhe cócegas. Então ele esboça um sorriso e volta para casa.

Um comentário:

Carol Javera disse...

Que lindo!!!!
O olhar diz tudo.