Tremia sem muito controle sobre a calma, com as mãos cegas a
procura da caixa de remédios, sempre preventivamente no mesmo local. Engoliu um
e, ainda com as mãos trêmulas, o segundo, sem água, a seco, rapidamente, a
procura de um alívio além da alma ferida. Não sabia ao certo qual reação a cada
palavra mal entendida deveria ter. Pensou em silenciar. Não foi capaz. E rapidamente
teceu algumas palavras à luz do que sentia instintivamente. O silêncio de réplica.
Pensou, quase que imediatamente: “foi escrito à lápis,
propositalmente, para que fosse apagado quando conveniente”. O alívio não
vinha. A calma não iria reinar mais, em nenhuma hipótese que não fosse o voltar
no tempo e desfazer o que era feito, desdizer o que disse. Por que tinha ele
que ser tão real, tão passional, se teria sido mais fácil ser superficial?
Via minuto a minuto a distância aumentar e o corroer por
dentro. Dizer qualquer desculpa dessas já não cabia, não explicava, não resolvia
e não aceitava. Não sabia, ainda, se assim seria, de fato, irremediavelmente.
Mas sabia, com toda certeza, que não queria nenhum rascunho inacabado. Sim,
rasgaria todas as páginas da obra não escrita, por mágoa, uma raiva
incompreensível. Quantas noites de sono, quanto de alma fora consumido para
essa escrita!
Lembrava de Pessoa, ele mesmo, o Fernando, e tinha raiva da
citação guardada desde o sexto ano da escola. Não, nem tudo vale a pena, não
importa o tamanho da alma, nem a grandeza do momento.
Não há perdão, nem desculpa, nem nenhuma situação que se
sustente assim. Mas tentava a calma, em benefício próprio. Achava que teria uma
história. Olhou e contemplou o vazio do coração. Jurou mantê-lo frio, gelado,
rígido. Para sempre, nada de bom seria permanente.
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