segunda-feira, 3 de setembro de 2012

31 segundos

Ele gosta de estar ali. Não é mais novidade, observar cada detalhe, como se fossem únicos, em cada próprio momento. Era um hábito que adquirira e não conseguia mais se livrar. Olhar minuciosamente a mínima parte de cada mínimo item. Isolar pormenores e desenhar longas histórias paralelas.

Os olhos sabem mentir. Às vezes, só disfarçar. Não encontrou verdade alguma em qualquer olhar, mas gostava de imaginar que sim. Exatamente no momento em que ela, cuidadosamente, deslizava os dedos no tecido, ajeitando-o ao corpo, como melhor lhe convinha. Movimentos que ele percebia, demoradamente, como parecia ser.

Os lugares são muitos. Não pretendia mencionar um a um, mas pensava em todos, simultaneamente, como se fossem um só. Preferia os abertos, ultimamente. Influência, talvez, do cotidiano. Pouco importa. Nenhuma inspiração específica, do tipo “insubstituível” para a mente. Além de qualquer fixação visual ou carnal. Ao contrário, era na instabilidade de foco que se concentrara nos últimos tempos.

Articulou alguns planos, sentiu saudade de suas metáforas. Gostava de ouvir sobre elas, ironicamente. Mas desviava de questionamentos.

Quando voltou os olhos, ela ainda estava lá. Com a mesma incerteza que ele percebera antes. Exatos 30 segundos em que desviou a atenção. Tempo suficiente para tomar outra dose. Recorrer ao espelho, como naqueles dias, deparar-se com a certeza do tempo. E ela já havia partido.

Um comentário:

H. Machado disse...

E isso é tanto, tanto tempo.