sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Sem insistir

A luz da rua ainda invadia a fresta da janela do quinto andar quando ele sentou-se à mesa com a agenda nas mãos. Com o corpo curvo, os olhos pesados de cansaço, quase fechando, lembrou mais uma vez, mas sem dar forma à ideia. Não quis atender ao telefone, mas saiu apressado, com a camisa pra fora, a barba por fazer.

Imaginava lugares ideais enquanto dirigia, mas no fim, só lhe restavam os mesmos buracos de sempre. Entrou, então, no único bar aceso, já pelas tantas da madrugada. Uma noite fria e deserta, como num dia comum. Falou três ou quatro palavras junto ao balcão.

Quando partiu, no caminho, fez um desvio. Não fora pra casa. Sabia que deveria, mas não o fez assim. E, quando a viu, sorriu como se todos os problemas tivessem se dissolvido. Falou durante horas, observando quando o vento batia em seu vestido amarelo, quase a obrigando segurá-lo, às vezes.

Observava os movimentos dos lábios dela, agora, já sem ouvir qualquer som. Sentia uma pena de tudo. Não dela, nem dele. Disso. Pensava em tudo que acontecera, mas pronunciar algo era fora de questão. Criou mil histórias em segundos, mas sem que ela o percebesse distante.

E quando a certeza oscilou, ele partiu sem insistir.

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