Uma menina

Você vai vê-la andar com aquele jeitinho meigo, fazendo beicinho pela boneca quebrada. Consertará o brinquedo, como quem conserta o mundo. Vai admirá-la enxugar as lágrimas e sorrir pra você. Parabéns, você agora é um herói.

Vai leva-la à escola e achar engraçado quando, mais velha, ela pedir para não deixa-la na porta, nem beijá-la assim, como você costuma – demoradamente em suas bochechas vermelhas – perto dos amigos dela. Sentirá o peso dos anos quando um moleque abusado chamar-te de “tio” e sair conversando com ela.

Você vai ficar incomodado com a primeira minissaia. Quem dirá a primeira maquiagem mais forte. Perceberá a beleza da mãe se transfigurando nela. É. Você ficará maluco nessa fase. Vigiará o primeiro namorado mais do que possa imaginar.

Mas quando chegar a hora, vai abrir seu whisky mais caro para o pretendente certo. E num piscar de olhos os anos terão passado. E ela estará radiante. Linda, também por dentro. E eu estarei sentado no banco ao lado, vendo você num terno preto, levando-a, toda de branco, ao altar. E eu verei seus olhos chorando de emoção. E vou abraça-lo ao final, com os mesmos votos de felicidades de hoje.