sábado, 30 de julho de 2011

O que guardo

Houve um tempo em que eu achava que caminhava. Cheguei a pensar que os outros é que passavam por mim. Mas hoje, e digo hoje no sentido exato, percebi que todos nós andamos ao mesmo tempo, em direções diferentes (não necessariamente contrárias).

Ninguém poderá escrever a minha história por mim. E se agora a febre me consome, é como se o coração avisasse ao corpo que o mundo mudou. Os olhos não são mais os mesmos. A gente cresce, cai, dói. E ainda dói.

Ao lado há sempre pouca gente por perto. Pra trás ficam outras coisas. De umas eu gosto, por outras eu sofro. E quando alguém me disse que eu viveria por mim mesmo, só, eu não entendia. Agora eu sinto que os cafés ficarão cada vez mais solitários, exceto pelo jornal que me acompanha sempre, me fazendo pensar e conversar sozinho. E vez outra, quando alguém acena, me sinto ainda mais só. Quão distantes somos um dos outros.

Ainda me lembro de todos aqueles dias e sensações. O drink em chamas. Cappuccinos especiais. Filosofia e utopia à mesa, com aquela pitada de paixão. Às vezes ainda sonho com isso, sentado sozinho, assistindo de novo o passado, sem poder interferir. Sem sentir nada. Contemplando.

E tantos outros dias vieram, transformaram. Quantas pessoas formaram as longas lembranças, as importantes e as descartáveis, essa última em maior número, por mais estranho que seja. Mas quando eu acordar amanhã, outra peça terá andado no tabuleiro. Não é nada, eu sei, todos dizem. Mas é.

Quando os trinta chegaram trouxeram uma bagagem difícil de se carregar. As opções são cada vez mais escassas. As oportunidades quase invisíveis. Deve ser por isso que não aprecio mais passar as tardes na livraria, comprando livros que nunca leio.

Eu ainda penso em todos vocês. Das mais variadas formas. Sinto saudades, às vezes. Não gosto desse saudosismo. Vou acordar todos os dias como faço sempre, de manhã bem cedo. Apreciar o gosto do café quente e doce. Trocar frases simples, insistir pouco na essência. Até que isso também se acabe.

E quando eu estiver velho, estarei ainda mais só. Com a rosto de todos vocês na lembrança. Daqueles que ainda vejo. E dos que nunca mais tive notícias. Com amor, saudade ou culpa.

Um comentário:

Quem escreve disse...

Hj me perguntaram - "Professor, tem quantos anos?". Minha resposta, "30", verteu-se em risos que não entendi, mas me fizeram perceber que meu tempo já há tempos não caminha mais com essa mocidade. Se bem que, sinceramente? Creio que nunca andei em lugar algum do tempo.

Abraço de nós três!