domingo, 16 de janeiro de 2011

Na sua casa

Você parecia estar lá, quando entrei e olhei vagarosamente cada detalhe, deixado, como se você não tivesse partido. Quase pude ver você chegando à sala, com aquela roupa informal, o cigarro aceso nas mãos e o fundo de coca no copo, encima da mesa. Toda aquela energia ainda existia. E o café por fazer, na cozinha, ainda não se explica. O pó esperando a água na cafeteira que não foi ligada naquela manhã. Um hábito interrompido. Tão improvável quanto a vida interrompida.

Parei alguns segundos, estático, na sala, olhando em volta. Acariciei os móveis como se conversasse com eles. Segui ao quarto em silêncio, como se você estivesse dormindo e eu não quisesse acordá-la. Roupas usadas, roupas novas, presentes ainda sem abrir. Sapatos e peças esperando como se a vida fosse seguir. Anotações importantes, reflexões que não esperava, não imaginava que escrevia, nem conhecia essa sua percepção, embora sempre desconfiasse.

Praticidade. Separei tudo o que era necessário. Conversei com você, sei que me ouviu e até rimos juntos, aquele riso de choro, para atenuar a tristeza. A saudade foi instantânea, estranha, indescritível. Li suas coisas, sei que aprovaria nessas circunstâncias e que me confiaria essa tarefa, com algumas reservas, claro.

Chorei o quanto achei necessário, para, então, me sentir à vontade, em sua casa, como se fosse a minha, como você sempre quis que eu fizesse. O que sinto é algo que não tem nome. Não pretendo verbalizar. Mas quero crer que você me vê e sabe o que se passa comigo, o tamanho do amor nunca dito tão claramente e o peso que sua falta me faz.

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