segunda-feira, 12 de julho de 2010

Naquela sala

Todos de terno e gravata. Ele trajando jeans. Parecia cena de novela, com aquelas conversas sérias. Em tudo isso ele pensava enquanto observava o movimento dos músculos dos rostos e das bocas, mais especificamente, soltando letras e palavras sem sentido. Todos falando e ele descontextualizava cada pronúncia, tornando tudo muito engraçado; um humor oculto, que só a ele atingia, claro. Caçoava, secretamente, de cada sotaque, cada preocupação inútil que não lhe dizia nada. Interessante como as coisas tem pesos diferentes para cada um.

Foi resgatado desse momento de abstração, quando o som retornou aos seus ouvidos, chamando seu nome para uma pergunta. Rapidamente se recompôs e respondeu qualquer coisa que não demonstrasse desatenção. Pronto. Estava, oficialmente, integrado ao grupo de futilidades de novo.

Paralelo ao descaso, o sono também o dominava e proporcionava uma sensação de estar sonhando, em sentido literal, acordado. E quanto mais as negociações avançavam, mais ele deixava a mente viajar no absurdo. A tal ponto que o decote dela, bem a sua frente, que até então não era notado, passou a ver a principal fonte de seus pensamentos. Especialmente quando se permita lembrar de tudo o que ela representava, sexualmente falando.

Era estranhamente atraente para ele que, naquele mesmo espaço, estivesse presente uma atmosfera sexual, sem que todos soubessem. Enquanto as frases discutiam promessas e planos, sua mente a despia lentamente, livrando-se da roupa colada, até que ela estivesse completamente nua, ali mesmo, oferecendo-se a ele por inteira.

Oito minutos haviam passado até que ele caísse em si novamente, evitando que os olhos fechassem de vez, num sono profundo em que poderia sonhar sem pressa. Controlou os olhos e os movimentos, levantou-se, despediu-se e pode, enfim, partir. Para lado oposto, com movimentos certos, ela também saiu sem olhar para trás.

Um comentário:

H. Machado disse...

"Excelentíssimos senhores, declaro como encerrada a cerimônia."