sexta-feira, 26 de março de 2010

Um nome não dito

Acordou com sono, de novo. Lembrou-se da agenda do dia. Pensou em todos os afazeres e, quando despertou, lembrou-se da data, mas tudo estava ainda inacessível, talvez pelo sono que insistia em deixá-lo na cama por mais cinco longos minutos, que mais pareciam vinte.

Quando por fim o telefone tocou, tudo parecia mais óbvio, de fácil resolução. Bastava, então, tomar um banho e um café bem forte para iniciar o dia. Foi o que fez. Sentado à mesa, olhando fixamente para a fumaça que saía da xícara, dedicou algum tempo para pensar nela, em tudo que nunca viveram, e nem jamais aconteceria. Tantas noites de amor nunca realizadas. E quantas vezes não acordaram juntos para que ele a visse com aquele sorriso de mulher apaixonada por ele e pela vida.

Tudo tão distante, tão improvável. As viagens nunca feitas. As horas intermináveis de sexo intenso jamais iniciadas. E por quantas vezes ele ficaria tempo acariciando os cabelos, admirando a beleza única e sentindo-se escolhido pela sorte. Tantas simulações mentais, uma lua de mel talvez, um casamento formal, quem sabe, uma vida compartilhada. Era uma manhã de absurdos sucessivos. Ele brincava de imaginar. Sentia-se livre fazendo isso, a tal ponto que tinha medo de pronunciar palavras inapropriadas a pessoas erradas. Ainda bem, não podiam ouvir seus pensamentos.

Pouco a pouco, voltando a si, refletiu sobre tudo. O café havia esfriado. Arrumou-se como de costume. Desejava encontrá-la mais a noite, linda, como jamais a veria. Um jantar romântico, uma conversa agradável. Censurou-se. De novo abordava coisas irreais. Já estava atrasado para o cansativo dia que haveria de vir. Mas sorria. Era livre. Podia pensar. E isso fazia com freqüência.

2 comentários:

Letícia disse...

:)
Um dos teus textos que me deu mais prazer de ler.

Carol Javera disse...

Que texto lindo, mas um pouco triste na minha opinião. Já reli umas 5 vezes.