quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Retrovisor

Cabelos longos e negros, em perfeito contraste com a branca pele e um olhar sacana que enfeitiça. Ela sabe seduzi-lo. Desperta desejo e gosta que seja assim. A fala é lenta, mansa, manhosa, quase infantil. Ele ouve, mas não escuta. Pouco importa o que diz. Fica entregue ao som daquela voz doce, ao pé do ouvido, pedindo mil coisas.

Anos depois, ele encosta o queixo na escrivaninha, relembra tudo com saudade. Os primeiros beijos desencontrados. O primeiro olhar penetrante. A primeira mágica noite. Sabe que está distante, em outras histórias que ele não quis viver. Mas nada tira dele o incômodo de lembrar, sentir de novo cada toque íntimo.

Recorda-se do último encontro. As conversas inúteis, pouco interessantes. As muitas mentiras que disse, as mil histórias inventadas. Conteúdo programado. Pretexto para um canto escuro, um quarto com luz apagada, onde a menina acorda mulher, no timbre da voz, no ato de dominar, fingindo ser dominada.

Deseja-a, tão ávido quanto o apreço de uns pelos vícios. Olha ao redor e vê de novo o mesmo sorriso atrevido, aquele jeito sapeca inconfundível. Ela desfila de mãos dadas, olha de relance para trás, de um jeito de que sem lembra de tudo. E segue.

Um comentário:

Quem escreve disse...

uollllllll, tive que ler 3 vezes para ter certeza de que li oque está escrito. Belissimo, meu menino!