quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Vivendo entre mortos

A cidade foi devastada. Todas as conquistas, os relacionamentos, as contas no comércio, tudo deixou desistir. Ele caminha entre os cadáveres apodrecendo entre as ruínas, depois do tudo. E ainda está vivo, sente-se mal e só, naturalmente. Ao mesmo tempo, o ar lhe invade os pulmões com certo alívio. Não seria mais preciso suportar a hipocrisia de todo dia. Podia dizer o que sentia, desejar sem culpa, viver para si.

Não há companhias. Não há mais infortúnios. Todos se foram. Ainda um pouco de pó levantado dos pés, ao pisar mais duramente no chão irregular. Não haveria de ter pena ou remorso. Não lhe cabia culpa nem mérito. A vida, nesse momento, era, então, um mero acaso de quem , distraidamente, trilhou caminhos errados.

Via os corpos espalhados no chão, mortos com o mesmo sorriso indigesto que engolia todos os dias. Eram, agora, bem menos que ele. Valiam o preço da auto-estima, do orgulho ferido, do sabor de vingança e de tudo mais que o fazia sentir-se vivo novamente.

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