domingo, 6 de setembro de 2009

O percurso

Ele pára com a ordem da luz vermelha do sinal e aproveita para contemplar a rua e seus pormenores. Vê, logo à esquerda, oito ou nove metros abaixo, na casa bem discreta, quase de esquina, ela erguer-se na pontinha dos pés para alcançar os lábios de seu par. Apenas um simples beijo, curto, de despedida. Um “até breve”, provavelmente.

Contorna a quadra e sobe por outra rua, clara, movimentada, no coração da cidade. O som dos carros e das gentes passando já identifica o grande fluxo do local. Em segunda marcha, bem lentamente, observa ao lado. Encostada no corpo junto ao carro, carícias ousadas, quase inadequadas. Alguns segundos e ela se recompõe, ajeita o vestido novamente, pisca devagar, olha fixamente pra ele. O convite está feito. A noite acabara de começar.

Quase um quilômetro adiante, cenas idênticas se repetem. Histórias que remetem ao amor e, com mais freqüência, ao sexo. No caminho de volta, um grupo de adolescentes cruza a frente do carro. Tempo o suficiente para um olhar de malícia, daqueles que provocam só por diversão, sem intenções específicas.

Parecia que tinha esquecido. Mas tantos flagrantes o fazem lembrar dos longos cabelos negros, milimetricamente nivelados ao meio das costas. E, de repente, o conjunto de coisas; o cheiro, a cor, o som e o gosto, tudo ao mesmo tempo, faz-se presente. Estaciona o carro, respira, e lembra-se da impossibilidade de tê-la. Ao mesmo tempo, contenta-se com a possibilidade de desejá-la inteira, nua, sem pudores, devassa, sem limites. Escolhe uma música e vai pra casa, rindo de seu próprio destino.

Um comentário:

Naakey disse...

nossa, que lindo! *-* adorei, re, adorei!