sábado, 11 de julho de 2009

Viagem

Já havia esquecido seu rosto, mas o gosto da sua boca ainda estava nele. Distraía-se com outras moças, mas aquele olhar o seguia onde quer que fosse. Queria poder não lembrar, mas em dois ou três segundos seu pensamento voava e de novo estava ele a ouvir o som daquela voz o convidando para mais uma noite de promessas intermináveis. E todos os lugares por onde passavam ficavam marcados pela energia de quem fingia deixar ser amada.

Outras fotografias confundem suas impressões. Mas a cada álbum folheado, uma pausa para admirar aqueles cabelos dourados e trazer à tona, novamente, todos os momentos compartilhados. Pensou em rasgar as fotos. Não o fez. Tentou fechar o álbum. Inútil. Misturava as imagens, comparava (sempre). Chegou quase a se conformar com a infelicidade, com sua pouca sorte, falta de oportunidade.

De repente, abriu um livro, encontrou uma dedicatória muito antiga. No meio, uma foto desbotada, esquecida desde os tempos antigos em que cultivava sonhos. E percebeu como seu emocional estava pesado com tantas recordações, algumas poucas saudades e outros tantos desejos. Juntou tudo numa caixa de sapatos. Ficou inerte por quase oito minutos, totalmente deslocado de si, pensando no que está longe e no que estava próximo (e percebeu que isso facilmente se inverte).

Decidiu fazer as malas. A distância seria apenas um detalhe. Teve medo de não ser reconhecido. Mas optou por rever quem estava longe e, ao mesmo tempo, esquecer quem de perto, já há algum tempo, o desestabilizava. O caminho é relativamente longo. Deseja ardentemente que ela o aguarde. Teme que ela mude de idéia. Mas parte, na esperança de que tudo vai dar certo outra vez.

Um comentário:

Carol Reis. disse...

'Deseja ardentemente que ela o aguarde. Teme que ela mude de idéia. Mas parte, na esperança de que tudo vai dar certo outra vez.' Isso é exatamente o que estou sentindo agora. Copiei para mim. ^^ Amei esse post.