Ele acorda no meio da noite, molhado de suor, quase em desespero. Respira, pensa no que fazer, sente medo, está em crise de ansiedade. Conhece bem os sintomas, a boca seca, o corpo formiga, o estômago gela. Há a necessidade de alguma ação imediata, mas o relógio marca 4h18 da manhã. Sabe que estará de pé às 7h, mas deseja resolver tudo (pelo bem ou pelo mal) agora. Ele veste-se, roupas velhas, não há tempo para vaidade. Pega o carro, sai pelas ruas desertas, tem mil inspirações.
A viagem é curta, leva cerca de 15 minutos. Ao chegar, desce com aquela lembrança nas mãos, o objeto que só os dois entenderiam. Pensa estar sendo romântico e num ato de loucura toca a campainha e espera que ela saia. Descabelada, ainda atordoada pelo susto, vestindo aquele moletom velho, ela pergunta:
- O que você faz aqui a essa hora?
Ele percebe que o clima não fluiu como imaginava, mostra o objeto e ameaça uma frase:
- Eu trouxe...
Ela balança a cabeça censurando-o e ele sente vontade de não ter ido. Cinco longos segundos se passaram até que ela se manifestasse, agora concorrendo com o barulho feito pelos cães da vizinhança, em alvoroço com a movimentação.
- Eu não sei o que você pretende, mas seja lá o que for que estiver pensando existir, acabou. Não acredito que esteja aqui agora.
Numa última tentativa ele interrompe:
- Queria te mostrar isso – diz, mostrando o objeto tão valioso.
- O que é isso?
- Você não se lembra?
- Não.
E ele retorna, sentindo, agora, o peso da distância; os 15 minutos da volta pareciam 15 horas. Viviam vidas diferentes. Tudo parece explicado. Ele a esquecerá, pois já não tem outra opção. Deita sentindo-se ridículo. Acorda odiando-se. E ela simplesmente não se lembra.
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