quarta-feira, 22 de julho de 2009

Quando se esquece

Ele acorda no meio da noite, molhado de suor, quase em desespero. Respira, pensa no que fazer, sente medo, está em crise de ansiedade. Conhece bem os sintomas, a boca seca, o corpo formiga, o estômago gela. Há a necessidade de alguma ação imediata, mas o relógio marca 4h18 da manhã. Sabe que estará de pé às 7h, mas deseja resolver tudo (pelo bem ou pelo mal) agora. Ele veste-se, roupas velhas, não há tempo para vaidade. Pega o carro, sai pelas ruas desertas, tem mil inspirações.

A viagem é curta, leva cerca de 15 minutos. Ao chegar, desce com aquela lembrança nas mãos, o objeto que só os dois entenderiam. Pensa estar sendo romântico e num ato de loucura toca a campainha e espera que ela saia. Descabelada, ainda atordoada pelo susto, vestindo aquele moletom velho, ela pergunta:

- O que você faz aqui a essa hora?
Ele percebe que o clima não fluiu como imaginava, mostra o objeto e ameaça uma frase:
- Eu trouxe...
Ela balança a cabeça censurando-o e ele sente vontade de não ter ido. Cinco longos segundos se passaram até que ela se manifestasse, agora concorrendo com o barulho feito pelos cães da vizinhança, em alvoroço com a movimentação.
- Eu não sei o que você pretende, mas seja lá o que for que estiver pensando existir, acabou. Não acredito que esteja aqui agora.
Numa última tentativa ele interrompe:
- Queria te mostrar isso – diz, mostrando o objeto tão valioso.
- O que é isso?
- Você não se lembra?
- Não.

E ele retorna, sentindo, agora, o peso da distância; os 15 minutos da volta pareciam 15 horas. Viviam vidas diferentes. Tudo parece explicado. Ele a esquecerá, pois já não tem outra opção. Deita sentindo-se ridículo. Acorda odiando-se. E ela simplesmente não se lembra.

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