sexta-feira, 3 de julho de 2009

De frente para o fim

Sabe aquele gosto amargo que dá na boca? Aquela sensação do abismo, não mais do medo, mas da dor pela sensação da perda. A cena toda perde a cor. Tudo fica preto e branco. O mel perde o sabor. Já estava perdida definitivamente aquela história e tudo deixaria de existir, como água corrente que se renova antes de transbordar. Quantas inúteis tentativas de encontrar uma única palavra capaz de traduzir o intraduzível.

As mãos nunca mais se tocarão. Agora há uma certa resistência, a proximidade não é mais bem vinda, de repente os objetos se derreteram, o mundo todo virou um grande borrado. As lágrimas são secas, não há mais nenhuma. Todas já foram derramadas ao longo dos anos. E todas aquelas lembranças, agora indesejáveis, antes sonho, agora mágoa, perderam-se pela sala. Quem dera fossem levadas de vez. Mas elas permanecem, agora machucando.

De repente, sente a vontade de não ter vivido esse dia, deseja apagar os anos. Quando mais tenta, mais permanece a incomodar. Nenhuma saudade deverá existir. Nenhuma vontade irá se sobressair. Tudo o que pode restar é o desejo de nunca ter visto o que seus olhos viram, de não ter sentido a intensidade do momento, de ter enfim, manchado todas aquelas palavras a ponto se tornarem irrecuperavelmente ilegíveis.

2 comentários:

Carol Javera disse...

Engraçado é que às vezes estamos de frente para o fim mas não fazemos a "passagem", ficamos adiando, adiando, até o limite.

H. Machado disse...

Desculpe-me pela ausência, porque mais interessante que ler tuas palavras, seria ouví-las, pois o texto ficaria muito, muito mais extenso. Muita saudade, meu amigo.