terça-feira, 27 de novembro de 2012

Opacidade


Eu poderia ter escolhido. E não o fiz. Quem não caminha, permanece onde está. E vice-versa. Não entendo, então, o que é feito de todos aqueles dias, de todas aquelas folhas de papel escritas. Nunca mais lerão aqueles contos. Nunca mais dirão aquelas palavras. E aquelas imagens nunca mais serão vistas além do imaginário e de uma lembrança jogada num canto qualquer, cada vez mais vaga, mais distante.

Não, eu nunca a quis que fosse diferente. E talvez até tivesse pensado na hipótese, em outras épocas, velhos tempos. Mas permanece a dúvida do que não foi explicado. Qual é o valor guardado nesses longos trechos que a mente conserva. E que só mantém porque os olhos presenciaram. É disso que se faz uma vida?

Longe de qualquer indignação, arrependimento ou saudade. Pra onde os passos levaram as pessoas? Por que seus passos marcam a areia e os meus marcam o asfalto? As notícias são cada vez mais escassas. Os filmes cada vez mais antigos. E a intensidade deu lugar à intranquilidade.

Eu me lembro das palavras. Mesmo das que não fazem sentido. Da longa mensagem de uma só palavra repetida cem vezes (idioma europeu, como o gosto dos vinhos, claro). Só pra certificar a vontade. Do sol quente que gerava poesias imaginárias. Dos drinques que não bebi. E das mentiras que eu devia ter dito.

Em que livro ficam gravadas todas as coisas que posso querer reler. E as que posso querer apagar. Qual é o sentido da trajetória? Quantos desvios numa única estrada. Quantos paralelos. Universos paralelos.

As mesas de bar não estão mais lá. O cheiro de café quase não se percebe. O vinho envelheceu da pior maneira. Coisas menos importantes distraem a mente. Outras mais importantes ocupam, de fato.

Eu não sei onde estamos. Não lembro como se mede a felicidade. Mas certas coisas não param de acontecer. A vida não é como há 10 anos.

Às vezes, eu procuro uma reposta. Ou várias. E ouço as mesmas coisas de antes. Mas não identifico as vozes. 

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