Eu poderia ter escolhido. E não o fiz. Quem não caminha,
permanece onde está. E vice-versa. Não entendo, então, o que é feito de todos
aqueles dias, de todas aquelas folhas de papel escritas. Nunca mais lerão
aqueles contos. Nunca mais dirão aquelas palavras. E aquelas imagens nunca mais
serão vistas além do imaginário e de uma lembrança jogada num canto qualquer,
cada vez mais vaga, mais distante.
Não, eu nunca a quis que fosse diferente. E talvez até
tivesse pensado na hipótese, em outras épocas, velhos tempos. Mas permanece a
dúvida do que não foi explicado. Qual é o valor guardado nesses longos trechos
que a mente conserva. E que só mantém porque os olhos presenciaram. É disso que
se faz uma vida?
Longe de qualquer indignação, arrependimento ou saudade. Pra
onde os passos levaram as pessoas? Por que seus passos marcam a areia e os meus
marcam o asfalto? As notícias são cada vez mais escassas. Os filmes cada vez
mais antigos. E a intensidade deu lugar à intranquilidade.
Eu me lembro das palavras. Mesmo das que não fazem sentido.
Da longa mensagem de uma só palavra repetida cem vezes (idioma europeu, como o
gosto dos vinhos, claro). Só pra certificar a vontade. Do sol quente que gerava
poesias imaginárias. Dos drinques que não bebi. E das mentiras que eu devia ter
dito.
Em que livro ficam gravadas todas as coisas que posso querer
reler. E as que posso querer apagar. Qual é o sentido da trajetória? Quantos
desvios numa única estrada. Quantos paralelos. Universos paralelos.
As mesas de bar não estão mais lá. O cheiro de café quase
não se percebe. O vinho envelheceu da pior maneira. Coisas menos importantes
distraem a mente. Outras mais importantes ocupam, de fato.
Eu não sei onde estamos. Não lembro como se mede a
felicidade. Mas certas coisas não param de acontecer. A vida não é como há 10
anos.
Às vezes, eu procuro uma reposta. Ou várias. E ouço as
mesmas coisas de antes. Mas não identifico as vozes.
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