Não pediu outra dose de whisky caro. Mas que paladar tão estranho estava nos últimos dias. Aliás, nos últimos meses. O tempo era uma questão aberta. Não sabia, ao certo, se começara cedo demais ou se permanecia além da hora. Mas era sabido que o fluxo estava fora de ritmo. Sintonia.
Sentou-se naquelas salas escuras, em que se observa lá longe as luzes, o movimento, a vida que não tinha. E que há tanto já teve. Quantas vezes brindou ao anonimato. Em quantas madrugadas viveu, como se não fosse além daquelas horas.
Seu pensamento vagava por essas histórias, as reais e as inventadas, as imaginadas e as desejadas. Quantos longos cabelos iguais àqueles acariciou em dias de completa solidão. Por prazer, gratidão ou pelo ócio.
Estava diante da escolha que, há muito, o velho amigo já fizera (e, quem sabe, talvez, também o amigo “Velho”, em outros mundos). O dilema que nunca tem fim. Não há resposta nem conselho. Só há duas escolhas: esperar ou seguir.
Esperar que a sensação passe. E, acredite, ela passa. E bons ventos voltem a soprar. Ou seguir o rumo dos ventos. Os bons e os não tão bons assim. E, é claro, a segunda opção é latente, entusiasmo indizível. É a dúvida entre a nobreza da mediocridade e o glamour da instabilidade cosmopolita.
Não são as pessoas que mudam. São as histórias e isso sim faz toda a diferença. Para homens. E mulheres.
Um comentário:
Aquela fração de espaço/tempo entre a tal nobreza, e a outra, a instabilidade, agora é um vácuo [e] só. Não dá mais pra lidar com a dimensão de não se ver o fim sem uma parada pra um café. Não mesmo.
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