terça-feira, 19 de julho de 2011

O meu olhar sobre eles

E se os olhos se multiplicassem e os olhares cruzassem histórias com mais frequência? É nisso que não paro de pensar enquanto sentado junto àquela velha mesa de plástico, registro cada uma das cenas em particular. O homem negro, mais velho na alma do que no corpo, agarra a lata quase vazia, leva à boca bebendo as gotas de cerveja quente que sobram. Faz isso repetidamente com todas as latas da mesa. Procura mais latas no lixo. Na lata do lixo. Encerra seu ciclo se aproximando, com uma voz peculiar um sotaque indefinido pedindo um cigarro.

Um outro, branco, bem vestido, mas com aquele aspecto decadente, que não engana ninguém, esbraveja, falando enrolado, completamente embriagado. Conta um causo recente, grita com indignação. Ameaça o interlocutor da história narrada. Reclama. Os outros dois estranhos ouvem com desprezo, disfarçam o deboche, enquanto os amigos tentam leva-lo para a outra mesa. Mas ele insiste em contar o ocorrido aos desconhecidos.

Cabelos louros, olhos claros. Parecia uma paisagem rústica. Mas não demora muito até que os gestos a denunciem. Sua atividade era óbvia. E ela questiona alguém ao telefone pela demora. Diz que vai embora. Mas fica. Espera. Sozinha, sem olhar de lado. Quase convincente. Até que chegasse seu par, esse sem muita ação que valesse registro.

Quantas outras coisas aconteceram nesse mesmo lugar. E em outros lugares. Com as mesmas pessoas envolvidas. Homens e mulheres vivendo ao acaso. Homens de várias mulheres. Mulheres de vários homens. E num piscar de olhos, mais um telefonema e ele relembra dela entregue, nua, vulnerável. Promíscua, de certo. E conta tudo, sem tanto entusiasmo.

E esse foi só uma das nuances de tudo que vi. A minha.

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