Eu vi a realeza. Estava absoluta, com os olhos cor de água, sem conseguir precisar o tom exato, azul, verde, não importa – o fascínio seria o mesmo. Olhar sóbrio, sereno, tão belo como não se descreve. Vívido, frio. Envolvente, não fosse tamanha indiferença com o que lhe era externo ao círculo em que, sentada permanecia, com postura impecável. A boca abria pouco, mas era possível medir com detalhe os lábios, claros, úmidos.
E quando um lapso me resgatava à realidade plebeia, voltava à tona o clima denso da tragédia. Minha mente submergia rapidamente, sem fôlego, mas a brisa leve e o som da ópera me transportavam, de novo, sem danos colaterais, à nobreza em que repousavam meus olhos de observador atento.
Até que tudo fizesse sentido e eu tivesse, num único instante, a certeza de discernir o palpável do improvável, com margem ao imprevisto, entre gestos, olhares e pensamentos obscuros. Pisquei demoradamente, para que desse tempo de pensar, e quando abri os olhos de novo, ela já havia partido.
Um comentário:
"Minha mente submergia rapidamente, sem fôlego, mas a brisa leve e o som da ópera me transportavam, de novo, sem danos colaterais, à nobreza em que repousavam meus olhos de observador atento"
que lindo ^^
Postar um comentário