sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

No Natal

As pessoas continuam existindo. Tendo uma vida, um cotidiano qualquer. Hábitos saudáveis, outros nem tanto. Vivem as coisinhas simples das quais nos esquecemos de considerar às vezes. Vão ao médico, à igreja, à luta. E nunca percebemos isso. Embora aconteça, mesmo quando não lembramos. O tempo passa por aqui e por lá.

Ela ainda amava na última vez que a viram. Ainda usava minissaia, gostava de rock e lia best-seller. Cantava alto no bar, lançava olhares à mesa ao lado. Hoje vive pequeno, sonha com aquele mundinho ao redor. Presente para as crianças, lembranças para os amigos, visita aos parentes. Formalidades e convenções em prol da boa (e velha) sociedade.

O tempo corrói irreversivelmente o entusiasmo das pessoas. Até mesmo aquele belo rosto está se desfazendo. Sobram alguns sinais; voz, sorriso marcado. E ao tentar prorrogar a inadiável ação do tempo, sobra a imagem de um resistente. Um suposto alienado. Estacionado, enquanto os outros se deixam envelhecer. Coisas que só vemos em dias assim. Por que não lembramos, nem nos importamos. Fingimos o tempo todo. E só revelamos agora.