Estive ausente por um longo tempo. Há muito não sentia a sensação da terra tocando os pés. E quando avistei a vendinha do “Seo” Luiz na esquina da rua da igreja, me senti ainda mais saudosista e triste. O prédio velho abandonado, com as paredes descascando já foi importante. O bar do “Seo” Mário agora tem outro dono. Não me lembro o nome dele, mas sei que esse não se senta à mesa para prosear com os velhinhos da praça. Aliás, para onde foram os velhinhos que jogavam dominó todos os domingos na sombra daquela árvore? Também não vejo mais a árvore. Mas os bancos e mesas de concreto ainda continuam lá, verdade que bem arruinados, mas não chegaram a ser destruídos.
Minha maior ansiedade era pra fazer, de novo, aquele caminho que passa pelo túnel das jabuticabeiras, que cortava uma volta e dava na rua sem saída. Lembro-me que em todas as manhãs implorava à minha irmã que por lá fossemos para a escola. “Mas a escola é do outro lado”, dizia ela. As jabuticabas continuam lá, mas o terreno agora é murado, com portão eletrônico e as frutas, provavelmente, apodrecem no chão. Será que o passarinho que enterrei continua lá?
Quem sabe na rampa de skate tenho mais sorte. Mas, agora, tudo que lá vejo são patinetes motorizados e coisas do tipo. Será quem alguém por aqui ainda usa skate? Em plena era do vídeo game...
A morte chega quando tudo o que é externo se modificou. E nossa alma continua velha, ou jovem, que se esqueceu de crescer e amadurecer. Pensei que quando a visse, seus olhos ainda brilhariam. Achei que suas mãos ainda ficariam trêmulas quando a tocasse. Durante muito tempo alimentei a esperança de vê-la sorrir de novo pra mim. Depois de tantas promessas que me fizeram acreditar ser especial, vi que minha imagem não estava nessa seção. Dentre tantos amores, tantos desencontros, em meio a tantas incertezas, ingênuo que sou, pensei algo sobraria. O sorriso novo em seu rosto explicou tudo.
Continuei caminhando pela antiga vila analisando o passado. A sensação de morte agora era mais forte. Senti a vida fluir. Tentava lembrar-me do cheiro das árvores que diferenciavam a rua, mas cada vez que fechava os olhos via aqueles cabelos médios, agora voando na direção contrária. Andei por quase uma hora, até sentir, de fato, o peso do infortúnio humano. Sentei-me junto a uma palmeira, até que adoecesse e morresse.
3 comentários:
Eu sei andar de skate *-*
O mundo de hoje... não cabe mesmo a infância de antes. Eu sinto falta. Porque sei que meus filhos não vão viver metade do que eu vivi. =S
As lembranças nos rejuvenescem a alma, mas a realidade em contraste com a saudade pode nos fazer mais tristes e impontentes diante de um tempo que não para e teima em nos envelhecer...
Postar um comentário